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terça-feira, 25 de setembro de 2007

"Roda Viva" com Mano Brown teve mais expectativa que polêmica


O rapper Mano Brown durante sua participação no programa Roda Viva (24/09/2007)


Quem esperava por declarações bombásticas do rapper Mano Brown no "Roda Viva", exibido ao vivo na noite da última segunda-feira (24) na TV Cultura, deve ter se decepcionado. A uma hora e meia de duração do programa foi "suave", nas palavras do próprio Brown, e episódios polêmicos como a participação dos Racionais MC's na Virada Cultural de São Paulo, em maio passado --na qual os Racionais entraram mais de uma hora e meia atrasados e tiveram que interromper o show por conta de um confronto entre público e autoridades-- sequer foram mencionados.

O momento que mais se aproximou de alguma tensão aconteceu no segundo bloco, quando falou-se sobre a responsabilidade das letras dos Racionais na mudança (para melhor ou pior) da juventude. Apesar da insistência do jornalista Renato Lombardi, da TV Cultura, o rapper se saiu com facilidade: "Eu não quero ter responsabilidade por ninguém, eu sou livre. O cara da periferia ouve outros oito tipos de música além do rap, por que seria eu o responsável por ele agir de alguma maneira?"

Na maior parte do programa, porém, predominaram perguntas vagas como "o que mudou no hip hop do começo de sua carreira até hoje?" (resposta: "Crescemos em número") e o clichê psicanalítico de "Mano Brown e Pedro Paulo Soares Pereira [verdadeiro nome do rapper] são a mesma pessoa?", respondido com um simples "sim, sou eu". No mais, repetiram-se as constatações-padrão sobre desigualdade social, opressão, falta de alternativas à criminalidade e indiferença das elites.

MST, corrupção e drogas
Mano Brown respondia a todas as perguntas na medida do possível, mas não cumpria a expectativa (um tanto injusta, até) de apresentar um raciocínio que legitimasse a periferia como produtora de arte "válida" e como "ser político". Perguntado sobre o MST, falou que "não lia muito para poder falar do assunto"; sobre a corrupção no governo federal, afirmou que "não é da índole do Lula entregar o amigo que deu mancada, ele veio de baixo, sabe como é isso. Se a justiça decidir, daí ele pune".

O rapper evitou falar sobre traficantes de drogas, preferindo o termo "comerciantes". "É um comércio assim como o da [cachaça] 51 e da cerveja, mas por que o dono da AmBev não vai preso? Porque não é pobre nem preto", resumiu. Ele disse ser favorável à proibição ou à liberação total das drogas, sem meio-termo, ainda que afirmasse preferir uma realidade em que "ninguém precisasse usar nada para entender o mundo".

Mano Brown declarou-se a favor de cotas para negros nas universidades, pois "a educação deveria ser de graça para todos e o Brasil deve muito aos negros". O músico citou Cuba como um exemplo de país que teria parado de "tentar ser Nova York, como o Brasil" e investido na formação de pessoas. Perguntado sobre sua própria formação, porém, afirmou que não quis cursar o Ensino Médio por "não gostar do clima da escola".

Ao fim do programa, ficou claro que Mano Brown, um talentoso cronista e observador, não é a "consciência dos excluídos" que sociólogos, estudantes e até senadores costumam enxergar nele. O rapper é consciente, sim, que os Racionais MC's foram um fenômeno até hoje não repetido de rap que conquista a "finada classe média", mas toda sua produção ainda é voltada para a periferia, seu público e realidade. O que isso vai "significar" para o "mundo dos brancos" não parece ser uma questão que lhe incomode, e quando se tenta entendê-lo fora desse contexto, descobre-se mais sobre o entrevistador que sobre o objeto da entrevista.

Um comentário:

Unknown disse...

Bacana o blog!! Música é sempre bom!! Seja bem-vindo a blogosfera!!

O meu blog também é sobre música, depois de uma passada lá.

abraço!
http://somdosom.blogspot.com/


Desenho de Claudya R.©2007 'Azul 2'